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BlogDe próprio punho

De próprio punho, por Fernanda Leme (artista visual): “A partir do momento em que comecei a me expor, percebi que muita gente sofre em silêncio, que o câncer ainda é um tabu”

Redação
Redação Ultima atualização: 04/10/2024
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Eu sempre quis ser artista. Entrei para a Escola de Belas Artes com 16 anos, mas não consegui cursar por pressão do meu pai, João Antonio, que achava que eu não conseguiria me sustentar vivendo de arte; então entrei para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Fui muito feliz na Arquitetura: trabalhei com gente bacana, como o Paulo Casé, mas depois que meu pai morreu em 2004. Tomei coragem e retomei meu sonho; em 2009, fui fazer cursos no Parque Lage.

Meu pai teve câncer. Há três anos, minha mãe, a jornalista Lúcia Leme, e há um ano e meio, meu irmão, João, também morreram de câncer de pulmão. Todos fumavam. Foi um baque pra mim. Ano passado, descobri um câncer de mama. Eu já trabalhava com arte e vinha pesquisando a pintura e a fotografia na contemporaneidade, a fugacidade das selfies em contraponto com a permanência dos retratos na pintura. Minha pesquisa era sobre eternizar a imagem para ela não morrer, mas aí dei de cara com a morte.  

Não foi fácil, mas tentei não me abater e encarar a doença como algo que acontece na vida. Se antes eu pintava meu rosto e de outras pessoas do meu círculo de convívio e também desconhecidos, a partir desse episódio, comecei a me retratar, inclusive durante o tratamento. A partir do momento em que comecei a me expor e a falar sobre o que estava acontecendo, percebi que muita gente sofre em silêncio, que o câncer ainda é um tabu, e muitos não falam que têm a doença. Minha ideia é desmistificar isso e ajudar outras pessoas através da minha pesquisa. Meu trabalho não é uma bandeira sobre a doença, mas claro que passa por isso, assim como fez Leonilson (1957-1993) sobre o HIV. 

Nunca parei de produzir, nem durante a fase mais difícil do tratamento. Meu médico oncologista me deu muita força para continuar e quer indicar meu trabalho para outros pacientes. Isso me dá uma satisfação imensa, saber que, de alguma forma, posso estar ajudando alguém a passar por esse momento tão difícil. 

Não é fácil lidar com a doença, mas existe esperança. Hoje me sinto bem, renovada e pronta para iniciar uma nova fase de vida. Venho de uma família de mulheres fortes, empoderadas: minha mãe e minhas avós sempre foram independentes, trabalharam fora. Cresci acreditando que quem mandava no mundo eram as mulheres; até hoje, trago esses exemplos de força comigo. 

Alguns momentos foram muito difíceis. Achei que meu cabelo não ia cair, usei a tal da touca, mas não consegui evitar a queda: todo o meu cabelo caiu. No final do ano passado, terminando o tratamento, fiz uma pintura chamada “Pente”, em que o objeto aparece em um fundo rosa-choque com alguns fios de cabelo presos a ele. Esse foi o ponto de virada, de mutação na minha vida e no meu trabalho. Comecei a enxergar esses fios de cabelo como morfemas, como signos. Minha pintura ficou mais geométrica, e os fios ganharam outros significados. Pra mim, esses trabalhos representam a conclusão de todo esse ciclo de perdas e transformações, com esta nova fase que está se iniciando.  

Para marcar este ciclo de 11 anos nas artes, reuni todas essas pinturas, de diversas fases, desde o meu início, passando pelo tratamento, até esse novo momento de renovação na exposição “Monstros”, inaugurada esta semana na Z42 Arte, com curadoria de Alexandre Sá. Não é uma exposição triste, pelo contrário, as obras são alegres, coloridas e cheias de esperança. O nome tem a ver com os monstros que temos que lidar ao longo da nossa vida: os lutos, as perdas, mas lembrando que sempre podemos combatê-los, basta ter força e esperança. Daqui pra frente, inicio uma nova fase, não só no meu trabalho, mas também na minha vida. 

Fernanda Leme é carioca. Arquiteta e artista visual, fez cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e na Escola Sem Sítio, além de participar do grupo de estudos “Arte e Filosofia”, com Paulo Sérgio Duarte e “Em Obras”, com Alexandre Sá. Participou de diversas exposições em espaços culturais no Rio, Brasília, Fortaleza e Minas Gerais, como Casa França-Brasil, Centro de Arte Hélio Oiticica, E.C.C.O. Espaço Cultural, EAV-Parque Lage e Galeria Sem Título. Inaugurou esta semana a exposição individual “Monstros”, na Z42 Arte, no Cosme Velho, com curadoria de Alexandre Sá.

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